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domingo, 22 de abril de 2012

UM DOMINGO DE SOL


Porto Alegre. Outono, mês de abril. Um domingo de sol. Nada de excepcional, além da inspiração para escrever uma crônica de domingo, sem pretensões literárias, simples registro de fatos e impressões do cotidiano.

Uma manhã rotineira, acordar cedo, cevar o mate, colocar um CD a rodar (esqueci que CDs não rodam, mas deixemos assim) e chimarrear sem pressa. Nenhum programa prévio, salvo o convívio em família, uma caminhada no parque, “secar” o Internacional (o Grêmio jogou ontem, ufa!!!) e, inevitável, dar uma passada na agenda dos compromissos de segunda-feira.

Ainda pela manhã, lembrei que o escritor Juremir Machado estaria autografando seu livro “Getúlio”, no Brique da Redenção e, segundo escreveu em sua coluna no Correio do Povo de sábado, buscando um contato direto com os leitores. Já tenho o livro, mas decidi ir ao evento apanhar um exemplar para presentear um aniversariante dos próximos dias. Com a mateira a tiracolo, fui ao Parque da Redenção para o encontro com o escritor.

A fila de autógrafos, o papo com outros leitores diários do jornalista, troca de referências sobre sua obra e, finalmente, meu contato com o autor de alguns dos livros de minha estante. Cumprimentos, papo rápido e saio todo contente com o livro autografado. Fico a pensar no que diria ao Juremir se tivesse mais tempo. Me identifico muito  com os textos diários deste jornalista sem papas na língua, que se autodenomina “escritor maldito”.

Temos afinidades. Ambos vivemos a infância nos campos de Santana, ele no Distrito de Palomas, em Santana do Livramento, eu no Rincão dos Dutras, em Santana da Boa Vista; ele relata suas andanças em tropeadas com o pai, na fronteira, eu  fiz tropeadas com meu pai nos campos de Santana, Piratini e Pinheiro Machado. Ambos habitamos o Bairro Bom Fim, na capital. Somos da mesma geração, eu ligeiramente mais velho.

Perdoem a falta de modéstia na comparação, mas acho que somos ambos malditos, ele um maldito notório, eu um maldito anônimo. Enquanto o reconhecido jornalista chega diariamente a milhares de leitores e ouvintes, com sua coluna no Correio do Povo e espaço na Rádio Guaíba, eu festejo algumas dezenas de acessos a meu blog em uma semana e estou censurado na Rádio Santana (guardadas as proporções, neste aspecto acho que sou mais maldito).

Continuo a caminhada pelo espaço dominical do Brique da Redenção. Gente de todas as idades, pais com bebês em carrinhos, casais de namorados, idosos, gente junto e gente avulsa, verdadeira fauna humana. Nos gestos e nos olhares um ponto em comum, a descontração e a serenidade. É um espaço de convivência pacífica onde até as rivalidades político/eleitorais são respeitadas, cada um em seu espaço, cada um com sua bandeira, lugar para todos.

Outro aspecto singular é a presença dos artistas de rua, em suas diversas formas de manifestação. Detenho-me a ouvir um cantor, tocando violão e desfilando seu repertório de MPB. O velho artista, um preto de cabelo grisalho, tem aquela voz forte e ao mesmo tempo suave dos irmãos afro. Conversando com sua esposa, que comercializa seus CDs, fiquei sabendo que o artista foi cantor da noite. Comprei um CD, cumprimentei o cantor e saí deliciado com a harmonia do violão e voz.

Enfim, o relógio biológico informa que é hora de voltar para casa. Retorno sem pressa, com o mate lavado, um livro e um CD em baixo do braço. Já passa do meio-dia, hora do almoço.  Alimento para o corpo, porque o espírito já está alimentado pelo convívio com o ambiente saudável, pelo encontro com meu “escritor maldito preferido”, pelas cores e sons do parque, pela sinfonia da vida.

6 comentários:

  1. OI, Donato,
    gostei muito, me fez passear contigo pelo Brique.
    abs. Ana.

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    1. Caríssima Ana,

      Imenso prazer receber a tua companhia neste passeio.
      Obrigado pela participação.

      Fraterno abraço,

      Moacir Donato

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  2. Caro Donato,

    Afinal: teu blog é o "Ecos do Clarim" ou o "Tô com Neura" ?
    Mas bueno... gostei da tua uma crônica, na qual identifico "forte pendor literário". Sobretudo pela leveza do tema, as sutilezas e entrelinhas nele contidas... e foi boa a sacada do maldito notório e do maldito anônimo.
    Um abraço e continue nesta senda.

    Jaques

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    1. Caríssimo Jaques,

      Agradeço pelas palavras de incentivo,um mimo do amigo.
      Esclareço a dúvida: mantenho os 2 blogs, com diferentes estilos de publicações. Logo vou retomar as postagens no TO COM NEURA, um blog de conteúdo mais leve e genérico, enquanto este, ECOS DO CLARIM, tem servido como um substitutivo aos espaços anteriormente ocupados no Jornal Clarim Santanense e na Rádio Santana, de minha terra Santana da Boa Vista, devido aos motivos expostos no próprio blog (é um instrumento de luta, como se diria nos velhos tempos).

      Fraterno abraço,

      Moacir Donato

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  3. Saudoso amigo Moacir Donato,
    Pude ouvir o som dos teus passos pelas "alamedas-entre-barracas" do brique, quase pude sentir os raios do sol esquentando a minha pele e aquela brisa fresca das árvores da redenção e, ahhhh....aquele mate amargo me deixou com água na boca!
    Pura verdade, copiando tua frase, "Nos gestos e nos olhares um ponto em comum, a descontração e a serenidade. É um espaço de convivência pacífica onde até as rivalidades político/eleitorais são respeitadas, cada um em seu espaço, cada um com sua bandeira, lugar para todos." Não vejo mácula nenhuma na afirmação que a seu tempo eu hei de experimentar novamente. Brique da Redenção; há quanto tempo não te vejo e não te sinto sob os meus pés; há quanto tempo meus olhos não vasculham tuas belezas, tuas artes e teus encantos; há quanto tempo não encontro os amigos e não revigoro as lembranças? Velho brique, que bom saber de ti pelo meu amigo Moacir, e saber que continuas o mesmo, sempre jovem e sempre velho.
    Tchê Donato, pero llegará el día en que podamos beber el mate amargo juntos y conversar lo que la vida nos ha preparado, lo que la vida nos ha hecho ir y lo que nuestros sueños.

    Moacir gran amigo, un abrazo, un apretón de manos y un adiós a hablar!

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  4. Meu Caro Carlos,
    Que baita satisfação receber teu comentário. Oxalá possamos em breve sorver um bom amargo na Redenção, ou quem sabe na beira do Guaíba, atualizando a prosa.
    Grande e fraterno abraço.

    Moacir Donato

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