Porto Alegre. Outono, mês de abril. Um domingo de sol.
Nada de excepcional, além da inspiração para escrever uma crônica de domingo,
sem pretensões literárias, simples registro de fatos e impressões do cotidiano.
Uma manhã rotineira, acordar cedo, cevar o mate,
colocar um CD a rodar (esqueci que CDs não rodam, mas deixemos assim) e
chimarrear sem pressa. Nenhum programa prévio, salvo o convívio em família, uma
caminhada no parque, “secar” o Internacional (o Grêmio jogou ontem, ufa!!!) e,
inevitável, dar uma passada na agenda dos compromissos de segunda-feira.
Ainda pela manhã, lembrei que o escritor Juremir
Machado estaria autografando seu livro “Getúlio”, no Brique da Redenção e, segundo
escreveu em sua coluna no Correio do Povo de sábado, buscando um contato direto
com os leitores. Já tenho o livro, mas decidi ir ao evento apanhar um exemplar
para presentear um aniversariante dos próximos dias. Com a mateira a tiracolo,
fui ao Parque da Redenção para o encontro com o escritor.
A fila de autógrafos, o papo com outros leitores
diários do jornalista, troca de referências sobre sua obra e, finalmente, meu
contato com o autor de alguns dos livros de minha estante. Cumprimentos, papo rápido
e saio todo contente com o livro autografado. Fico a pensar no que diria ao
Juremir se tivesse mais tempo. Me identifico muito com os textos diários deste jornalista sem
papas na língua, que se autodenomina “escritor maldito”.
Temos afinidades. Ambos vivemos a infância nos campos
de Santana, ele no Distrito de Palomas, em Santana do Livramento, eu no Rincão
dos Dutras, em Santana da Boa Vista; ele relata suas andanças em tropeadas com
o pai, na fronteira, eu fiz tropeadas
com meu pai nos campos de Santana, Piratini e Pinheiro Machado. Ambos habitamos
o Bairro Bom Fim, na capital. Somos da mesma geração, eu ligeiramente mais
velho.
Perdoem a falta de modéstia na comparação, mas acho
que somos ambos malditos, ele um maldito notório, eu um maldito anônimo. Enquanto
o reconhecido jornalista chega diariamente a milhares de leitores e ouvintes,
com sua coluna no Correio do Povo e espaço na Rádio Guaíba, eu festejo algumas
dezenas de acessos a meu blog em uma semana e estou censurado na Rádio Santana (guardadas
as proporções, neste aspecto acho que sou mais maldito).
Continuo a caminhada pelo espaço dominical do Brique
da Redenção. Gente de todas as idades, pais com bebês em carrinhos, casais de
namorados, idosos, gente junto e gente avulsa, verdadeira fauna humana. Nos
gestos e nos olhares um ponto em comum, a descontração e a serenidade. É um
espaço de convivência pacífica onde até as rivalidades político/eleitorais são
respeitadas, cada um em seu espaço, cada um com sua bandeira, lugar para todos.
Outro aspecto singular é a presença dos artistas de
rua, em suas diversas formas de manifestação. Detenho-me a ouvir um cantor,
tocando violão e desfilando seu repertório de MPB. O velho artista, um preto de
cabelo grisalho, tem aquela voz forte e ao mesmo tempo suave dos irmãos afro.
Conversando com sua esposa, que comercializa seus CDs, fiquei sabendo que o
artista foi cantor da noite. Comprei um CD, cumprimentei o cantor e saí
deliciado com a harmonia do violão e voz.
Enfim, o relógio biológico informa que é hora de
voltar para casa. Retorno sem pressa, com o mate lavado, um livro e um CD em
baixo do braço. Já passa do meio-dia, hora do almoço. Alimento para o corpo, porque o espírito já
está alimentado pelo convívio com o ambiente saudável, pelo encontro com meu
“escritor maldito preferido”, pelas cores e sons do parque, pela sinfonia da
vida.
OI, Donato,
ResponderExcluirgostei muito, me fez passear contigo pelo Brique.
abs. Ana.
Caríssima Ana,
ExcluirImenso prazer receber a tua companhia neste passeio.
Obrigado pela participação.
Fraterno abraço,
Moacir Donato
Caro Donato,
ResponderExcluirAfinal: teu blog é o "Ecos do Clarim" ou o "Tô com Neura" ?
Mas bueno... gostei da tua uma crônica, na qual identifico "forte pendor literário". Sobretudo pela leveza do tema, as sutilezas e entrelinhas nele contidas... e foi boa a sacada do maldito notório e do maldito anônimo.
Um abraço e continue nesta senda.
Jaques
Caríssimo Jaques,
ExcluirAgradeço pelas palavras de incentivo,um mimo do amigo.
Esclareço a dúvida: mantenho os 2 blogs, com diferentes estilos de publicações. Logo vou retomar as postagens no TO COM NEURA, um blog de conteúdo mais leve e genérico, enquanto este, ECOS DO CLARIM, tem servido como um substitutivo aos espaços anteriormente ocupados no Jornal Clarim Santanense e na Rádio Santana, de minha terra Santana da Boa Vista, devido aos motivos expostos no próprio blog (é um instrumento de luta, como se diria nos velhos tempos).
Fraterno abraço,
Moacir Donato
Saudoso amigo Moacir Donato,
ResponderExcluirPude ouvir o som dos teus passos pelas "alamedas-entre-barracas" do brique, quase pude sentir os raios do sol esquentando a minha pele e aquela brisa fresca das árvores da redenção e, ahhhh....aquele mate amargo me deixou com água na boca!
Pura verdade, copiando tua frase, "Nos gestos e nos olhares um ponto em comum, a descontração e a serenidade. É um espaço de convivência pacífica onde até as rivalidades político/eleitorais são respeitadas, cada um em seu espaço, cada um com sua bandeira, lugar para todos." Não vejo mácula nenhuma na afirmação que a seu tempo eu hei de experimentar novamente. Brique da Redenção; há quanto tempo não te vejo e não te sinto sob os meus pés; há quanto tempo meus olhos não vasculham tuas belezas, tuas artes e teus encantos; há quanto tempo não encontro os amigos e não revigoro as lembranças? Velho brique, que bom saber de ti pelo meu amigo Moacir, e saber que continuas o mesmo, sempre jovem e sempre velho.
Tchê Donato, pero llegará el día en que podamos beber el mate amargo juntos y conversar lo que la vida nos ha preparado, lo que la vida nos ha hecho ir y lo que nuestros sueños.
Moacir gran amigo, un abrazo, un apretón de manos y un adiós a hablar!
Meu Caro Carlos,
ResponderExcluirQue baita satisfação receber teu comentário. Oxalá possamos em breve sorver um bom amargo na Redenção, ou quem sabe na beira do Guaíba, atualizando a prosa.
Grande e fraterno abraço.
Moacir Donato