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domingo, 31 de julho de 2011

PRETA VELHA BENZEDEIRA - UMA HOMENAGEM À TIA VERGÍNIA

4.ª ENCANTADAS DA CANÇÃO GAÚCHA
     30, 31/10 e 01/11/2009
    Santana da Boa Vista - RS

    Composição premiada como "A Mais Popular", por indicação do público.

    PRETA VELHA BENZEDEIRA

    Todo mundo conheceu
    Tia Vergínia, a benzedeira
    na centenária existência
    fez o bem a vida inteira
    um dia partiu, serena
    esse espirito de luz
    pra ser um anjo no céu
    junto à Maria e Jesus

    (Refrão)
    Preta velha benzedeira
    dos males das criaturas
    suas mãos foram instrumentos
    de um divino dom de cura

    Benzia cobreiro brabo
    quebranto e mau olhado
    sapinho na piazada
    torção e osso quebrado
    sem pedidos, nada em troca
    rezava com devoção
    a crença na benzedeira
    foi costume e tradição

    Refrão...

    E agora que estás, mãe preta
    junto de Nosso Senhor
    será que podes pedir
    uma graça, por favor
    nossa gente anda sofrida
    com tantas desilusões
    mande mais fé e esperança
    mais amor nos corações

     Refrão...

  Nota: Apresentação disponível no youtube - acesso pelo título PRETA VELHA BENZEDEIRA.
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 FICHA TÉCNICA:
Autor da letra: Moacir Donato; Música/Melodia: João Paulo Garcia; Ritmo: Milonga; 
Intérprete: Arthur N. Garcia; Músicos: Adriano Garcia e João Paulo Garcia (violões);
Roger Silva (contrabaixo); Tácito Fagundes (percussão - carron).
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DADOS BIOGRÁFICOS

VERGÍNIA OLIVEIRA DA SILVA (Tia Vergínia)

Nasceu em 06/06/1902, em Santana da Boa Vista, na localidade Costa do Valeiro, falecendo em 01/08/2007, com 105 anos de idade. Aos 5 anos perdeu a mãe, sendo criada pela avó Regina. Foi casada com o Sr. Francisco Nascimento da Silva (Tio Chiquinho), de quem ficou viúva. Teve 3 filhos: Alfredo e Ana Regina (falecidos) e Márcia da Silva Domingos, que dedicou-lhe cuidados nas últimas décadas de vida. Teve ainda 2 filhos de criação: Lourdes e Joel (Jader).

Tia Vergínia trabalhou na roça, em artesanato de lã, foi cozinheira em bailes de campanha e auxiliar de parteira. Desde muito cedo, exercendo o oficio transmitido pela mãe ou avó, ficou conhecida como "benzedeira", sendo muito requisitada e respeitada nesta atividade. Com o falecimento de Tia Vergínia, perdeu-se uma das últimas benzedeiras da região e, com ela, uma parte expressiva do costume e tradição das rezas de benzedura.

A homenagem prestada com esta composição, além do registro e resgate de um importante aspecto  dos costumes e tradições regionais, além dos implícitos contidos na "Crônica da Vida", costitui o reconhecimento à figura e história de "Tia Vergínia", "uma pessoa do bem". Em síntese, esta homenagem traduz, segundo o autor, "um simples gesto de amor".
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Crônica publicada no CLARIM  SANTANENSE (Ed. Novembro/2007)


 CRÔNICA DA VIDA
 Moacir Donato

          (Crônica apresentada na abertura do Programa Comunidade & Cidadania, 
          na Rádio Santana, dia 04.08.2007). 

          Nesta primeira intervenção no Programa Comunidade & Cidadania, quero fazer um registro, uma reflexão, numa espécie de crônica da vida. Sim, esta reflexão fala da vida e tem inspiração num fato ocorrido esta semana em nossa comunidade, o falecimento da Tia Vergínia, encerrando uma passagem de 105 anos neste plano.

          Mas não vou falar de morte... Esta reflexão tem como foco a vida. E analisando a vida das pessoas observamos que:

          Algumas conquistam poder, respeito e notoriedade, enquanto outras passam quase despercebidas por este mundo... 

          Alguns conquistam ou impõem respeito pelo seu poder econômico... Outros conquistam o poder politico...    

          Muitos alcançam o respeito pelo conhecimento adquirido ou atingem o sucesso por suas habilidades nas artes ou nos esportes.

          Mas e aqueles que não têm poder econômico, não alcançam o poder político, não detém o conhecimento das letras e das ciências e não fazem sucesso nas artes ou nos esportes, como alcançarão respeito?

          Nós tivemos a felicidade e o privilégio de conviver com uma pessoa simples, humilde, de poucas letras, nascida no início do século passado, muito provavelmente filha de escravos, que nunca teve fortuna, nem poder, nem sucesso, mas conquistou um respeito unânime das diversas gerações que compartilharam de sua longa vida.

           E como? Simplesmente fazendo o bem, usando um dom que lhe foi transmitido pelos costumes e tradições, talvez por sua mãe ou avó.

          Quantas dezenas ou centenas de pessoas, ao longo dessas décadas, buscaram alívio, conforto,  esperança, nas benzeduras da Preta Velha Benzedeira? E ali, exercendo seu dom, com muita fé, foi benzendo nervo torcido, osso quebrado, cobreiro brabo e outros males.

          Com todas as pessoas com quem falei, ainda antes de sua passagem, constatei um profundo respeito. Algo quase místico. Por isto falo de VIDA e de RESPEITO.

          Sua voz era segura, seu gesto firme, mas suas feições eram serenas e meigas, transmitindo paz, segurança e bênçãos. Ainda agora recordo sua imagem serena quando a visitei no último sábado.

          Não estou aqui lamentando sua morte ou simplesmente registrando uma perda. Desejo, isto sim, solidarizar-me aos familiares com esta mensagem de conforto. Tia Vergínia cumpriu sua missão. Fez o bem. Conquistou merecido respeito e agora segue seu curso como um espírito iluminado, deixando a todos nós, no vazio de suas bênçãos, o espaço para uma reflexão sobre a vida e seus verdadeiros valores.

domingo, 24 de julho de 2011

À MEMÓRIA DE ERALDO FREITAS DA SILVA


Recentemente faleceu, após longo período de enfermidade, o santanense Eraldo Freitas da Silva, servidor público municipal, tradicionalista, hábil desenhista, que também mantinha afinidade com as letras. Tive o privilégio de privar do convívio com Eraldo, um jovem inteligente, talentoso, de jeito simples, conversa franca, sempre disponível para as diversas missões para as quais era requisitado devido à sua versatilidade. 

A seguir, reproduzimos artigo de autoria do Eraldo, na primeira edição do Clarim Santanense. Com esta singela homenagem, apresento minha solidariedade aos familiares e, de modo especial, à sua mãe,  Sra. Teresinha. 


CLARIM SANTANENSE - Primeira Edição - Maio/Junho de 1985
Arte da Capa: Eraldo Freitas da Silva

Espaço NOSSA TERRA E NOSSA GENTE (Página 6)
          
               "FONTE DO CEDRO
                 Eraldo Freitas da Siva

      Relembrando nossos monumentos históricos, assim podemos denominá-la, neste número farei um pequeno resumo da história da nossa tão conhecida Fonte do Cedro. Hoje, esquecida e abandonada materialmente, mas não na memória dos santanenses, pois falando com diversas pessoas, estas lembraram muitas façanhas realizadas durante os puxes de água. A Fonte do Cedro foi parte do cotidiano dos piás, que tinham no transporte de água em pipas, um meio para ganhar alguns trocados. Ali também, compravam suas briguinhas, o que era um dos divertimentos preferidos da gurizada.
      Todos, ao falar da Fonte, empregaram palavras de saudade. Alguns lembraram o famoso burro branco do falecido Aparício Rodrigues de Freitas, ou do burro do hospital, animais ocupados para puxar as pipas com água trazida da fonte para abastecer a cidade.
      A fonte, conforme descrição feita por algumas pessoas com quem conversei, passou por diversos estágios. A primeira fonte era apenas uma caixa (depósito) de onde era tirada a água com baldes para encher as pipas. Mais tarde, foi colocado um cano para facilitar o trabalho. Por último, foi aperfeiçoado o sistema, com a colocação de um cano que atravessava a rua e ia desaguar junto ao grande muro, onde encostavam as pipas para encher de água, sem uso de baldes (local onde hoje se encontra a casa da hidráulica).
      Contam-se fatos da época, uns interessantes, outros cômicos:
      Aos domingos, os donos de pipas emprestavam-nas para a gurizada transportar e vender água na cidade. Outro fato, este cômico, é lembrado sobre o burro do hospital. O anibal tinha suas manias e, quando tinha chance, fugia com a pipa. Nestas ocasiões, não precisavam procurá-lo noutro local, pois o mesmo estaria em frente à casa do Sr. Aníbal Dorneles, embaixo de uma figueira, dormingo em pé.
      Enfim, este é apenas um resumo de uma das partes históricas de nossa cidade, que foi esquecida, apesar de constituída por fatos verídicos  sobre um local muito belo. Se alguém resolvesse a pesquisar a história dessa fonte, poderia até escrever um livro, pois trata-se de matéria extensa e cheia de singular beleza."








ARTIGO PUBLICADO NO CLARIM SANTANENSE - DEZEMBRO/2008

REMINISCÊNCIAS...

Moacir Donato

Neste artigo, diferentemente das edições anteriores, peço licença aos leitores para abordar um tema de ordem pessoal: minha relação com a terra natal, à qual chamo carinhosamente de "minha aldeia", a nossa Santana da Boa Vista. As próximas linhas, alerto, são escritas com a emoção de quem, mesmo vivendo distante há vários anos, jamais rompeu o "cordão umbilical" com a querência.

Numa rápida retrospectiva, lembro o ano de 1969, quando com 11 anos de idade vim lá do Rincão dos Dutras para a cidade, à cavalo, para estudar a 5.ª série no velho Grupo Escolar Jacinto Inácio. Depois veio o ginásio e, no ano de 1974, a partida para Caçapava do Sul, onde cursei o ensino médio, concluindo em 1976 o Curso de Técnico em Contabilidade. Mais uma partida, em 1977, aos 19 anos, para Caxias do Sul, em busca de trabalho que permitisse continuar os estudos.

Trabalhando de dia e estudando à noite, em 1982 conclui o Curso de Direito, permanecendo ainda em Caxias até o início de 1984, quando "joguei para o alto" um bem remunerado emprego, com perspectivas de rápida ascensão profissional, retornando à Santana para exercer a advocacia, propósito mantido desde que daqui saíra 10 anos antes. Naquele regresso imaginava eu, aos 26 anos de idade, ser aqui o meu lugar definitivo.

 O Brasil vivia um tempo de transição, a caminho da redemocratização. A campanha pelas "Diretas Já", a eleição indireta de Tancredo Neves, sua morte e a posse de Sarney. Nos distantes rincões, longe dos grandes centros, entretanto, o regime de exceção mantinha seu poderio praticamente intacto. Aqui não era diferente. Os mecanismos de exercício do poder eram os mais diversos, desde a cooptação, como oferta de um emprego público, até a intimidação por meios menos sutis...

Antes mesmo de eu chegar à terra natal, já haviam acenado com a oferta de um contrato para lecionar na Escola de Segundo Grau, no lugar de um professor que só aguardava substituto para pedir transferencia. Era a cadeira de Direito e Legislação, na medida para o jovem advogado. Havia uma condição: assinar ficha no "partido do governo".  Eu disse "NÃO" e, como naquele conto de Aparício Silva Rillo, "foi assim que começou a briga...". Em lugar do professor de direito, nascia o ativista político. A etapa seguinte é uma longa história, que o espaço de um artigo não comporta.

Como consequencia de meu envolvimento no centário político, sofri sérias restrições de ordem profissional. Não conseguindo "comprar", nem "assustar", tentaram me "matar de fome". Foi na busca do "pão de cada dia", já com um filho para criar, que em 1992 aceitei uma proposta de trabalho e vim parar na Capital. As circunstâncias fizeram com que aqui permanecesse, mas sempre vinculado aos assuntos de Santana. Em determinado período, por razões diversas, vivi uma espécie de auto-exílio. Foram tempos de amargo sentimento, mas também de reflexões e de amadurecimento.

Finalmente, entre os anos de 2005 e 2006 iniciei o regresso ao convívio com minha terra e com minha gente. Este convívio foi acentuado nestes últimos dois anos. Foi um tempo em que, além da atividade profissional, retomei contatos com velhos amigos e tive a felicidade de construir novos relacionamentos, de amizade, de trabalho e de exercício da cidadania. Tão próximo consegui estar que muitas pessoas perguntavam se eu havia retornado a residir em Santana.

De todas as atividades em que participei neste "regresso" a Santana, a que mais me envolveu emocionalmente foi a oportunidade de participar da "reconstrução" do Clube do Livro Coriolano Castro, com a reabertura da biblioteca, com a volta à circulação do Clarim Santanense e com o privilégio especial de entrar semanalmente nos lares de meus conterrâneos por meio das ondas de nossa Rádio Santana, no Programa Comunidade & Cidadania que completa dois anos no ar.

Como alertei no início, este artigo tem um caráter pessoal, inspirado na emoção. É uma janela escancarada do sentimento do autor. E este sentimento é de realização, de satisfação pela oportunidade do convívio e pelos vínculso afetivos e institucionais construídos. É, sobretudo, de gratidão pela acolhida e pela parceria de tantos quantos ousaram sonhar os mesmos sonhos. Oxalá 2009 permita-nos continuar sonhando juntos!
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Nota: Esta foi a última edição do Clarim Santanense, que circulou em dezembro/2008.

APRESENTAÇÃO



Iniciando a conversa:
Penso que não será  difícil para o leitor identificar a origem deste blog, vinculando ao nome do editor. 
Hoje residindo na capital do Estado, mas com uma trajetória de vida vinculada à minha terra natal, busquei neste recurso oferecido pela tecnologia um meio para manter o contato com meus conterrâneos, estejam onde estiverem, lá em nossa "Terra de Luta e Fé" ou espalhados por outras querências, mas próximos nesta dimensão virtual.

Por que Ecos do Clarim?
Em 1984, logo após minha formatura em Direito, retornei a Santana onde me estabeleci como advogado. Era um tempo de transformações. O país fazia a travessia de um longo período de ditadura para a redemocratização. Logo, engajei-me aos assuntos da terra e, no ano de 1985, juntamente com outros idealistas fundamos o Clube do Livro Coriolano Castro, tendo como objetivo organizar e manter uma biblioteca para seus associados e, na sequência, lançamos o Clarim Santanense, órgão informativo do Clube do Livro. O Clarim tormou-se, ao longo dos anos, o único informativo impresso do município, passando por diversos ciclos de vida, divulgando fatos e registrando a história. 

A última edição do Clarim Santanense, sob minha direção, circulou no mês de dezembro de 2008.  Logo após,  apresentei a última edição do Programa Comunidade & Cidadania, espaço sob responsabilidade da Diretoria do Clube do Livro apresentado aos sábados pela manhã, na Rádio Comunitária de Santana, integrante da estrutura do Clube do Livro Coriolano Castro.

A censura não morreu...
O encerramento de mais este ciclo de vida do Clarim Santanense e a retirada do Programa Comunidade & Cidadania do ar, não foram mera coincidência. Ao contrário, foram atos de censura imposta pelo grupo que se apropriou da instituição a um de seus fundadores e ex-presidente, exatamente pelo fato deste opor-se aos desvios de fins e ilegalidades praticadas, propondo mudanças e apontando caminhos. Além de outros assuntos, vamos também ocupar este espaço para rememorar a história do Clube do Livro, do Clarim Santanense e da Rádio Santana, bem como falar dos motivos que levaram ao meu afastamento.

Sem medo e sem preço...
Vou assegurar espaço para o contraditório, comprometendo-me a publicar intervenções, esclarecimentos e repostas de quem desejar, desde que devidamente identificado e cumpridas as formalidades que assegurem a autenticidade da autoria. Sempre agi assim quando na Direção do Clarim Santanense. Até esta liberdade de opinião incomodava "gente criada nos tempos da ditadura". 

Na sequência, vou transcrever o último artigo que publiquei no Clarim Santanense, em dezembro de 2008, onde faço uma retrospectiva de minha trajetória. Serve como apresentação pessoal. Também vou reproduzir matérias e artigos publicados no Clarim ao longo de sua existência.

Por oportuno, registro que não me surpreenderei se os mesmos responsáveis pelo "fechamento" do Clarim Santanense e pela retirada do ar do Programa Comunidade & Cidadania, tentem intervir junto à Diretoria do Google para censurar este blog. Sugiro, façam o mais simples: participem. Mandem suas versões que terei o prazer de publicar. Sou defensor intransigente da liberdade de expressão e nunca temi o contraditório.

Com esta apresentação, iniciamos a jornada. Partindo das margens do Guaíba, meu grito atravessará  o Dorçal das Encantadas e chegará às matas do Camaquã. É o "grito dos livres"! São os "Ecos do Clarim"!

Moacir Donato Rosa de Oliveira
Advogado - Porto Alegre - RS

Lema: "Semear idéias para colher mudanças."