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segunda-feira, 28 de maio de 2012

BRASIL 2017 - III



Sumário:
Apresentação (Postagem I)
1. Prólogo (Postagem II)
2. Origens: Descoberta, Colônia e Monarquia (Postagem II)
3. A República em Ciclos
3.1 República Velha
3.2 Governo Getúlio Vargas
3.3 Anos Dourados
3.4 Anos de Chumbo
3.5 Abertura e Democracia
4. Nação e Cidadania
5. O Sexto Ciclo:  Uma encruzilhada no caminho
6. Palavras finais (ou iniciais...)



3. A República em Ciclos: República Velha, Governo Getúlio,
    Anos Dourados, Anos de Chumbo, Abertura e Democracia

3.1   A República Velha

O período denominado Republica Velha durou 41 anos, iniciando com a proclamação da república, em 1889, e culminando com a Revolução de 1930. O advento da república não foi, na completa acepção da palavra, uma revolução. Seguindo os moldes da América Latina, onde “as fardas costumam falar em nome da sociedade”, a proclamação da república foi uma quartelada, um golpe militar, representando interesses de parcelas das oligarquias dominantes.

Neste artigo não há espaço, nem é a intenção, para aprofundar a análise sobre o que mais convinha ao país, se o regime monárquico ou republicano. O que releva registrar é que a velha aristocracia logo se acomodou ao novo regime, mantendo o status quo por meio da prática do coronelismo. Sob a égide da república, no lugar dos barões agora os coronéis detém o poder regional.

O longo período da República Velha foi caracterizado por agitação política, com movimentos rebeldes localizados (como no Rio Grande do Sul, as revoluções de 1893 e 1923, dentre outras escaramuças), e por eleições fraudulentas. Daí surge a figura do “Cavalo do Comissário”, ou seja, do candidato da situação que terá, se necessário, o poder de “arrumar” os resultados eleitorais.

Aspecto importante a destacar é que menos de 5% da população em idade adulta tinha direito ao voto, considerando-se que analfabetos e mulheres não tinham a condição de eleitores.

Neste período, enquanto transcorria a segunda fase da Revolução Industrial (o automóvel, o avião e outros avanços), enquanto a humanidade estremecia com a Primeira Guerra Mundial (1914/1918), o Brasil movia-se a passos lentos sob a hegemonia da “Política Café com Leite” (domínio da política nacional por São Paulo e Minas Gerais).

Por fim, o desgaste do sistema político dominante, os efeitos da crise econômica de 1929 (quebra da Bolsa de Nova York e a Crise do Café no Brasil), além de fatores secundários; foram responsáveis pelo fim da “Política Café com Leite” e pela Revolução de 1930, levando Getúlio Vargas ao poder e encerrando o ciclo da República Velha. 

domingo, 6 de maio de 2012

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TEXTOS MAIS ACESSADOS/Data da Postagem
(posição em 06.05.12)


Em todo o período:
1.º - Aniversário do Clube do Livro - 18.03.12
2.º - Notificação à Diretoria do Clube do Livro - 07.08.11
3.º - Artigo Publicado no Clarim Santanense - 24.07.11
4.º - O Plátano Falante - 14.08.11
5.º - À Memória de Eraldo Freitas da Silva - 24.07.11


No último mês:
1.º - Carta Aberta ao Presidente do Clube do Livro - 15.04.12
2.º - Um Domingo de Sol - 22.04.12
3.º - O Plátano Falante - 14.08.11
4.º - Aniversário do Clube do Livro - 18.03.12
5.º - O Cuidador da Vaca - 18.03.12
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Série de postagens em publicação:  BRASIL 2017

SÓ EM CASO DE PERCISÃO (Conto)


Mês de março. Sol quente. Tempo da colheita de arroz. Quaresma. Tempo em que as cobras estão mais venenosas, segundo a tradição local.

Estamos em um lugar qualquer, num cantão de mundo, distante da chamada “civilização”, onde ainda predominava a “lei do mais forte”. Os descendentes dos primeiros colonizadores, com sobrenomes nobres, dedicam-se à pecuária e alguns, mais recentemente, à monocultura em grandes extensões de terra - primeiro o arroz, depois a (ou o) soja.

Os outros, negros, mulatos, pardos, ou são “agregados” das fazendas, morando no fundo das invernadas, ou peões das grandes lavouras, alguns já morando em corredores. Uns poucos possuem pequenas extensões de terras, onde se dedicam a agricultura de subsistência, não dispensando o complemento de renda como peões, da fazenda ou da lavoura, num disfarçado regime de servidão.

Bem, deixemos as considerações sociológicas e vamos ao fato daquela tarde mormacenta.

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O bolicho de campanha estava movimentado. Homens e rapazotes dividiam-se em grupos. Uns jogando cartas, outros bebendo e contando pataquadas. As mulheres, na capela não muito distante, faziam orações, por si e pelos maridos e filhos. Os homens do lugar também acreditavam nos santos, embora confiassem mais nas armas...

Quase sem que percebam chega um tipo diferente, montando um cavalo bem encilhado, que amarra um pouco distante dos demais e dirige-se à porta do bolicho. As botas fazem ruído forte no pedregulho, em compasso com o tilintar das enormes esporas.

O traje, um misto de gaúcho e caubói. Chapéu de aba grande, com os lados dobrados para cima. Na cintura, pendia um revólver calibre 38, de marca S&W. No coldre de arma, três fileiras de balas. Completando a figura, uma faca coqueiro com lâmina de uns trinta centímetros, atravessada nas costas.

O forasteiro para na porta e fala alto e grosso: “Buenas tardes!!!” Algumas respostas, resmungos e silêncios... O tipo valentão fala para o bolicheiro: “Cachaça para todo mundo, por minha conta. Enche aquele ali (apontando para um copo grande)”.

Servida a pinga, o valentão joga uma “pelega” de cinco contos de réis sobre o balcão, apanha o copo, vai até a porta e despeja um pouquinho, rugindo: “é para o Santo...”. Na sequência, passa o copo para o mais próximo, que bebe e passa para o outro, assim continuando.

O clima é tenso. Já quase não se fala no bolicho. Os carteadores pararam o jogo. Nisto, o copo chega a um negrinho meio pardo, estatura franzina, aparentando vinte e poucos anos. Ele passa para o próximo sem beber. O valentão, atento à sena, berra: “Tu não bebeu, negro!”. O preto responde, num fio de voz: “Eu não bebo, senhor”.

O valentão, com fisionomia de contrariado, resmunga: “Há, tu não bebe...”. Olhou para o dono do bolicho e determinou: “Serve meio copo, naquele ali”, apontando para um copo na prateleira. O bolicheiro serviu o meio copo. O valentão, gritou: “Completa com farinha de mandioca”. Ao que o comerciante atendeu prontamente.

Ato contínuo o valentão, chispando de raiva, tira o revolver do coldre, enfiando o cano no copo e mexendo a farinha com a cachaça. Volta-se para o negro e alcança o copo, agora já com uma colher dentro, dizendo: “Beber tu não bebe, mas comer tu vai comer, porque eu estou pagando e não aceito desfeita”. Continua com o revólver na mão, enquanto o negro começa a encher a boca com colheradas daquela improvisada paçoca.

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Meia-tarde. Calor, mormaço. Silêncio no bolicho. Até dá para ouvir as mulheres, na capela, cantando “Ave Maria! Ave Maria! Ave...”.

Os homens estão calados. Em algumas caras percebe-se que estão se divertindo com a cena; em outras, visivelmente, o medo. Um relógio de parede, daqueles antigos, começa a badalar marcando quatro horas. Alguns olhares desviam-se para a direção do relógio.

Em uma fração de segundos, impossível de perceber como tudo começou, o negro cuspe uma porção da paçoca em direção aos olhos do valentão. No mesmo movimento joga-se ao chão, com seu corpo parecendo um “xis”: uma perna no chão, um braço voltado para baixo e outro para o alto e, finalmente, a segunda perna em direção à cabeça do valentão, desferindo uma patada certeira.

Ninguém percebeu como o rapaz apanhou o revolver e, de imediato, alcançou-o ao comerciante. Ágil, volta ao valentão e aplica-lhe um violento pontapé na região de sua “masculinidade”.

No chão, o valentão encontra-se fora de combate, contorcendo-se e com as mãos “naquele lugar”, o do segundo golpe, olhos esbugalhados e um rosnar que denuncia mais dor do que raiva.

O preto franzino, serenamente, apanha seus poucos pertences e dirige-se à porta para sair do local. Um dos presentes, recuperando-se do estado de letargia coletiva, pergunta: “Ô negro, onde aprendeste isso”.

O rapazote responde, apressado e com voz fraca:
“Isto é capoeira. Aprendi com meu avô, que foi escravo. Mas ele disse para usar só em caso de percisão.”  Pediu licença e desapareceu na curva da estrada. Da capela, ainda vinha o som de “Ave Maria! Ave Maria! Ave...”.

 Nota: 
 Núcleo do texto adaptado de conto de domínio público, transmitido pela tradição oral.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Brasil 2017 - II


Sumário:
Apresentação (Postagem I)
1. Prólogo
2. Origens: Descoberta, Colônia e Monarquia
3. A República em Ciclos
3.1 República Velha
3.2 Governo Getúlio Vargas
3.3 Anos Dourados
3.4 Anos de Chumbo
3.5 Abertura e Democracia
4. Nação e Cidadania
5. O Sexto Ciclo:  Uma encruzilhada no caminho
6. Palavras finais (ou iniciais...)


1.  Prólogo

“O presente é o futuro do passado.”

Esta afirmativa, extraída de algum texto sobre estratégia, tanto pode se aplicar à trajetória e carreira pessoal, ao planejamento estratégico de uma empresa ou, em âmbito mais abrangente, à história de um país.

Um olhar estendido ao passado, numa visão retrospectiva de nossa história, certamente demonstrará que o cenário vivido nos dias atuais é uma conseqüência de fatos, decisões e posturas adotadas em tempos pretéritos.

Se isto for verdadeiro, a decorrência lógica é que os caminhos que nos levam ao futuro estão sendo escolhidos no presente. Em outras palavras, com as opções, decisões, atos e atitudes de hoje, estamos desenhando o cenário do amanhã.

Esta é, em síntese, a idéia que norteia o texto. Sem qualquer pretensão científica, busca estimular uma reflexão sobre o destino de nosso país em uma perspectiva de futuro próximo, tomando como referências os diversos ciclos da história, o cenário contemporâneo e as tendências projetadas.

Ao final, o leitor não encontrará uma conclusão, mas alternativas de destinos, as quais, como na programação de uma viagem, poderão servir de subsídio para a escolha do caminho e dos meios para o percurso.

2. Origens: Descoberta, Colônia e Monarquia

Partindo-se do fato que a história oficial chama de “descoberta”, podemos constatar que os “descobridores” portugueses, na verdade, fizeram uma apropriação de terras que já tinham dono.  Foi assim em todo o continente americano, iniciando com a exploração das riquezas e culminando com o extermínio dos habitantes nativos. A história escrita e ensinada pelo “homem branco” nunca destinou muito espaço para este capítulo.

A divisão de ciclos da história geral mostra que o período da Idade Média encerrou-se próximo do ano 1500, época das grandes navegações e descobertas.  Nesta perspectiva de tempo, o período do Brasil Colônia coincidiria com a chamada Idade Moderna, ciclo de grandes transformações na Europa.

Tal conclusão, entretanto, é falsa. Enquanto no Velho Mundo ocorriam mudanças políticas, econômicas e sociais, os exploradores portugueses transportaram para o Brasil o defasado modelo da Idade Média. Aqui, os feudos foram representados pelas capitanias hereditárias e as relações de poder, do ponto de vista humano, seguiam padrões piores do que aqueles vigentes ao final do medievo na Europa.

Este ciclo de costumes e práticas da Idade Média, no Brasil, perdurou durante todo o período colonial, sendo lícito concluir-se que já iniciamos nossa história com atraso de aproximadamente 300 anos em relação ao chamado mundo civilizado.

A independência do Brasil, já no Século XIX, em muitos aspectos, não mudou este cenário de idade média. Como exemplo, veja-se o regime de escravidão dos negros, que permeou quase todo o período da monarquia. Uma sociedade que pratica o tráfico e a escravidão de seres humanos, certamente ainda não alcançou os ciclos definidos como Idade Moderna e Idade Contemporânea.

Assim chegamos às portas do Século XX. Não bastassem os 300 anos de atraso em relação ao processo civilizatório, representados pelo período colonial, é comum afirmar-se que a Proclamação da República foi a nossa Revolução Francesa com 100 anos de atraso.

Neste aspecto, em que pesem os 100 anos, é temerário afirmar-se que a instauração da república representou, na prática, a adoção do conjunto de ideais propugnados ao som da Marselhesa. Os primeiros dois ciclos da história republicana constituem um alerta aos mais ufanistas. Os que vieram depois, de igual sorte, não significaram grande evolução, especialmente em termos do exercício da cidadania.