Setembro. Comemorações alusivas à Guerra dos Farrapos e à República Rio-Grandense. Tempo de rememorar nossa história, raízes, costumes e tradições. Oportunidade, também, para reflexões, sem esquecer alguns aspectos relegados pela historiografia oficial, tema para outro artigo, oportunamente.
Aqui na capital, passeando pelo Acampamento Farroupilha, no Parque da Harmonia, sou invadido por uma nostalgia e sentimento de exílio. Volto às noites de rondas quando, ainda guri, me encantava o galpão instalado na Praça, onde hoje está o quiosque.
Mais tarde, no retorno à terra natal, engajei-me ao único CTG então existente, o Tropeiro Velho. Foram anos de convívio fraterno, onde participei nas mais diversas atividades, contribuindo da forma que melhor podia. Durante alguns anos, fui honrado com a função de “agregado das falas”.
Apresentei de Saraus de Prenda Jovem aos desfiles do dia 20 de Setembro, quando introduzi uma inovação, de improviso, comentando as alegorias e indumentárias dos piquetes, peões e prendas. Numa evolução, mais tarde, os CTGs e piquetes adotaram apresentadores próprios, com prévia preparação das apresentações, enriquecendo o aspecto cultural dos desfiles.
No momento em que estou remoendo estes “recuerdos”, em pleno Acampamento Farrapo, alguém me oferece um chimarrão. O amargo da erva mate mistura-se com o amargo gosto de exílio. Aí, eu vejo em cada galpão do acampamento as noites de ronda no “CTG Tropeiro Velho” e, de inhapa, as tertúlias e rodeios no meu “Piquete Sobra de Guerra”, ali no Passo das Carretas.
Reproduzindo uma frase que não é minha: “eu saí do campo, mas o campo não saiu de mim”. Quando vim para a cidade grande, trouxe na alma a bombacha e no linguajar o jeito campeiro de ser, a franqueza e a simplicidade.
Lá pela década de 70, quando o tradicionalismo ainda não tinha entre os jovens dos centros urbanos a atual aceitação, eu provocava os contemporâneos da faculdade, em Caxias do Sul, com versos do saudoso José Mendes:
“O moço cá da cidade
a sua origem contesta
não gosta de ver bombacha
chapéu quebrado na testa
não importa o que eles digam
ou que de mim achem graça
sou guasca e orgulho tenho
do meu Rio Grande, minha raça.”
Para concluir, “sem querer me alongar”, como dizia um velho amigo em seus não curtos discursos, como tributo à Semana Farroupilha, apresento poesia que escrevi em homenagem ao CTG Tropeiro Velho, ainda quando integrava sua patronagem.
CTG TROPEIRO VELHO
Moacir Donato
CTG Tropeiro Velho
rancho tradicionalista
em Santana da Boa Vista
es templo da tradição
e neste rude galpão
nas tertúlias culturais
evocam-se os ancestrais
e a história do rincão.
Velho rancho retovado
bem ao tipo do gaúcho
aqui não se exige luxo
e todos tem igualdade
vivendo em fraternidade
neste centro nativista
onde o bom regionalista
convive com lealdade.
É por isto meu galpão
abrigo do minuano
que cresce anos após ano
tua invernada social
reunindo num ideal
os velhos e a mocidade
o gaúcho da cidade
e o peão do meio rural.
Igual a um velho tropeiro
recrutando os desgarrados
campereias no PASSADO
heróis e revoluções
costumes e tradições
repontando no PRESENTE
as raízes... as sementes
pras FUTURAS gerações.